Wednesday, November 17, 2004

Uma História

Eu sou um feijão amarelo, fui abandonado porque os meus irmãos eram
verdes e o meu pai era sportinguista. Lá em casa havia
um tomate, que dormia na mesma toca que uma cenoura, ficava cheio de negras quando
lhe perguntava: "hey, qual é o teu problema com legumes ingleses? É too much
para mim. Só tenho três opções: triturar-te, cortar-me às rodelas, ou apanhar a centopeia
infinita, esforço não seria... Vai para o Japão dentro de um pão. Eu ia
pagar-te um bilhete para a tomatina, mas preciso do € para a psicoterapia."
Não me fodas! Poupar dinheiro para isso é como poupar € para comprar farinha, Ai!
Da tua farinha queria muita gente. Vai-te sulfatar." Pegou nas trouxas e saiu.
E a cenourinha telefonou ao psicanalista: "Homosexualidade latente", disse
a ilustre personagem, que era uma cebola frustrada que não queria ser descascada.
Mas escreveu livros e ele e o bróculo eram amigos. Uma vez o escândalo
estalou na horta, porque se descobriu que eram eles que atraiam os ratos e faziam
tricot com lãs de ratos. Não consigo olhar para o Igor sem me rir. Agora
fizeste-me imaginá-lo com uma camisola de lã de ratos que participaram numa orgia da
pirataria de Marte. Sim! Porque ele e eles são marcianos promíscuos
que descobriram que, para recrutar pessoal, não basta tar atentos nas aulas e esforçam-se
por incutir superpoderes nos noviços que em pouco tempo ficam uns selvagens
através do álcool e gritaria e óculos com aspecto inocente. Depois, fingem ser iguais
aos geeks e Screech's deste mundo. Sabem-na toda, é o que é...
Pois. É que, dentro da nave invisível que tá estacionada por trás do BA,
aguardam os Darth Vaders que os levarão para o lado negro da Força
Aérea Portuguesa. Se um cavalo lhes der uma patada e estragar a maquilhagem
os dentes partem e em casa ninguém lhes ri. O dinheiro perde-se e os
sapatos ganham musgo e das raízes dos dentes partidos brotam fungos centenários.
O milionário prende-se ao chão e o ouro fica baço. As rugas sulcadas carregam
raios de sol perdidos em cremes inúteis. Os olhos, desabituados da luz, por elegantes
ramelas eram cobertos. Na escuridão remoía a dureza dos membros e
a posição em que cumpriam os mesmos deveres de sempre e todos os dias era
a dor de ouvir os filhso construir a casa da árvore nele. Os pregos cravavam-se
nas ideias perdidas de um dia qualquer. As tábuas assentavam pesadamente
nos ombros, não de gigantes, de um ser ressequido que temia o Outono
quando as folhas caíam, deixavam ver tudo aquilo que desfigurava os anos e as
vidas que guardava, sumítico. Uma vez segurou um homem com a língua
entalada nos dentes, e entupida na traqueia para evitar o vómito de paixões incoerentes.
Era um morto na boca, apodrecia e sujava-o por dentro. Ainda mais.
E à sua frente, decadente, viu tudo aquilo que era e fingia não ser. Um odor pungente
assolou-lhe o nariz, o ar pútrido reflectia um atrás, auguriava um negro
pequeno-almoço eterno de um dia que nunca chegará. E transformou-se numa simples
folha seca que se foi deteriorando na terra húmida entre vermes
sedentos de carne, sangue e lágrimas fétidas.
Há coisas que se podem dizer todos os dias.
Há coisas que se podem dizer sempre e ficam subentendidas na
cumplicidade. Quando se acabam as frases do lado.
The end of a beginning.
Joui & Jo

1 comment:

Anonymous said...

jay_man
2004-11-17 07:04 (link) Escolha
boa, boa :D

dreixel
2004-11-17 11:56 (link) Escolha
Ah, cada uma escreveu uma linha, alternando?


coracaodearame
2004-11-17 12:12 (link) Escolha
yeps, é já uma clássico da aula de psicologia das emoções ;)

kollaps
2004-11-17 13:05 (link) Escolha
este post está tão giro.

coracaodearame
2004-11-17 14:20 (link) Escolha
:) experimenta.


tortura
2004-11-17 14:10 (link) Escolha
:)

viste um post meu antigo? assim do género...
(Responder)(Linha de discussão)


coracaodearame
2004-11-17 14:23 (link) Escolha
devo ter visto mas não me estou a lembrar...
tenho uma folha dobrada em leque cheia cheia cheia :)