Thursday, July 07, 2005

Prato.

Acho que é a palavra mais esquisita do Português. Esquisita também.

Tuesday, June 07, 2005

Numb and cold

-- Post eliminado. --

Friday, April 15, 2005

Circunstância de Marioneta

Abres um olho. Esforçadamente, abres o outro. Pálpebras preguiçosas, ainda é demasiado cedo e a cabeça está pesada. Surpreendentemente, no instante seguinte, um clarão irrompe de qualquer lado, de onde? De onde? A energia começa a fluir nas veias, na carne, no sangue, no cérebro. Uma crescente irritação, da qual desconheces a origem, vem sobrepor-se, vem matar a tua ingenuidade. Por muito que não queiras, esperas que dure. E levantas-te, já raivosa do dia que está para começar.
ninguém me fode
Irrita-te que eles peguem em ti, te entrelacem por entre os dedos e moldam-te da forma que eles querem, que eles gostam e chutam-te quando quiseres. Promessas incumpridas de coisas que nunca chegam, ofereces tudo o que tens, eles aceitam e aproveitam aquilo que querem. O resto é reciclagem. Só se trata daquilo que há de mais fundo em ti, da essência que te estrutura os dias, a tua própria forma, ser, razão. De tudo e de nada daquilo que fazes.
Um dia, quando acordas, já não sabes o que és.
Já não queres saber quem és, só esconder atrás de uma pedra, de um pedregulho do tamanho daquele que tens entalado na garganta. E deixas de oferecer seja o que for, mesmo a quem merece. Especialmente a quem merece.
Palavras amargas, ácidas e corrosivas obstruem o cérebro esponjoso, desfeito.
Obrigam-te a esconder as lágrimas, porque não as podem ver, porque não as compreendem. É só água e cloreto de sódio e mais um não-sei-quê que não interessa.
Ao levantar, os teus passos moldam-se à irritação. Tens um leve saltitar que podia ser alegria, que podia ser Primavera, mas nota-se que não é. Os olhos baixos, cavos, maus. Quase góticos. Fundos e escuros. Cheios de raiva.
ninguém me fode
Podias oferecer palavras bonitas, mas elas esconderam-se, agora é preciso picar a casca para lá chegar.
Fumas um cigarro, quando nem sequer tens o hábito de fumar de manhã. O sabor que fica na boca irrita-te ainda mais profundamente e admites aquilo que já precisavas de admitir há demasiado tempo.
Só dependes de ti.

Monday, March 14, 2005

Fresh Air

E eis que, de repente, o torpor esvai-se. Esfuma-se para um lado qualquer, qual não interessa nem se quer saber, só para não ter de o encontrar de novo. O cansaço é substituído por uma pica vinda do desconhecido, a negridão e a bacidez dos dias tem uma nova cor. Faz lembrar salada de alface com cenoura, salada de frutas, salada de disposições saborosas. Os passos têm uma nova musicalidade, um saltinho ridículo no calcanhar e o trautear infinito de uma música qualquer, que outrora seria irritante, mas hoje é... é.
De repente, a cabeça afogada surge da água, take a deep breath, e vamos viver de novo. Depois de demasiados dias a remoer a cabeça, uma última noite em se deita com o cérebro a andar à roda, e roda enquanto se dorme e roda quando se acorda, o que há para pensar já está mais que pensado, mais que mastigado, a digestão parada há demasiado tempo. E há um *click*. Repentino, inesperado, lufada de ar fresco.
E espera-se que dure.

Tuesday, February 22, 2005

Twilight

Ontem. A noite msitura-se com a noção de que o tempo é finito, somos efémeros. A luz do candeeiro interfere no sono que cai por cima do livro. Na escuridão, os cobertores aconchegam e a bátega da chuva é distinta do lado de fora da janela. Naquele momento, a certeza incerta de ainda termos muitos dias daquela fase pré-sono sempre igual.
De manhã, a estrada molhada de fresco cospe carros para as bermas e rajadas de lama para todo o lado. Uma aberta no céu deixa espreitar o arco-íris, nunca tinha visto o seu fim. Hoje vi.
Passou por mim um senhor, de bicicleta, com um saco do Expresso a proteger a careca da chuva. E logo a seguir, passou um carro que me molhou as calças.
As coisas dispersas não estão interligadas, mas pode-se sempre fingir que sim.

Thursday, February 17, 2005

You and Me. Trapezistas

Os dias têm-se assombrado de nuvens negras, tristes e carregadas. Já reparaste? De certo que já. Só que as nuvens que vês são disformes como as minhas e dás-lhes formas que tu queres, que só tu vês e imaginas e que só tu sabes. Viramo-nos para o mundo de forma invertida, viramos o sofrimento do avesso, eu por um lado e tu por outro.
Dá-me as mãos, deixa que os teus olhos entrem pelos meus adentro, não vais ver nada senão íris e pupila (nunca soube distinguir entre as duas, hei-de perguntar ao meu tio, talvez ele me explique qualquer coisa que nem é importante), mas vais ficar com a sensação de segurança que nestes dias só temos com a companhia um do outro, ou dos que andam a esticar a rede de segurança. É isso, temos sido trapezistas em momentos vertiginosos, não caímos ainda porque somos um perfectly matched pair, mas andamos a tremelicar porque ainda precisamos de muito treino.
Podemos ver muitas coisas. Temos olhos que não se cingem às passagens vertiginosas e desinteressantes do dia a dia, já uma vez te disse que não cabemos no tempo. Podemos percorrer ruas e calçadas de pedra e chuva, deixar a lama enrolar nos cabelos e nos corpos e fazemos só aquilo que quisermos, e podemos desempenhar o papel de qualquer coisa que não somos, podemos ser tudo e nada.
Eu sou melindrosa e sonho para lá do real, tu és sólido e arrastão, e nunca veremos o mundo da mesma forma. Somos duas partes complementares da mesma coisa e de tudo que é diferente.
“Se o Joãozinho fosse igual à Joaninha…”
“… não tinha piada nenhuma, pois não?”

Someone other than me

Entrou devagar no quarto que andava a imaginar há meses. O quarto que não era dela, onde não pertencia, entrou só de passagem. Arrastava os passos pesados de cerveja e haxixe, as roupas coloridas, escolhidas a dedo, misturadas e diferentes, distinguem-na da multidão. Não decadente, nem pensar nisso, misturada e quieta, humor cortante e algo se aflora na sua expressão simples que não dá para perceber o que é. Olhou à sua volta, as quatro paredes, cheias de coisas de uma vida que não lhe pertence nem lhe cabe tocar, ela só está ali para ver. Gostava que não fosse assim, mas é o pouco que tem e que pode aproveitar. Despe-se e deita-se na cama que não é sua.
Noutro lugar, outra rapariga esfuma-se em bebidas, fuma charros infindáveis, mata a inquietação que tentou abafar durante tempos. A imaginação surge como um monstro que é preciso calar e os charros também dão para isso. Não dorme.
No quarto, ao lado da cama, há uma mesa de cabeceira que tem uma foto de uma criança que olha o infinito. Ela olha-a e é uma estranha, mas percebe que o quarto tem histórias para contar que não a sua.
A criança, essa, anda perdida em ruelas lúgubres e inimagináveis, continua a olhar o vazio, sempre o vazio, só porque o vazio não dói.

Thursday, February 03, 2005

Too weak to yell

Há dias em que tudo cai por terra e só resta um cansaço estranho. Breves momentos que não cabem nas horas em que se rebola na cama, braços encolhidos no peito e uma vontade angustiante de uivar, de gemer, de ganir. Desespero animalesco. Tudo parece insuportável e nada faz sentido. Nem os caminhos, nem os passos, nem os sorrisos, nem nada. Pequenos instantes em que o medo se instala e apetece fugir, sem saber para onde, sem saber por onde e sem saber como. Os soluços entopem a garganta e fica-se ali, a tremer, agarrados a nós mesmos: a tudo o que temos. E não sabemos o que somos, porque somos, para que é que somos e o que seremos. E ninguém sabe. Ninguém sabe que as gotas que saem pelos olhos sabem a amargo lá por dentro. Ninguém sabe o sabor do nosso amargo e ninguém sabe como é que se dá o doce para cortar o amargo. Ninguém tem o pau de canela, ninguém descobre o açúcar. Passeiam-se mais por perto, fazem passos de bailarinos e palavras bonitas para quê, e têm olhos que não vêem e ouvidos que não ouvem, coração bate mas não sente. Os olhos precisam-se para ver os rostos inchados, os ouvidos para ouvir os uivos cortantes no frio da noite, os corações apenas bombeiam sangue.
No one knows. I'm alone.