Thursday, January 06, 2005

Fragmentação de qualquer coisa

Escrevo enquanto trabalho. Pedaços soltos de pensamentos soltos, fragmentos de um quotidiano despedaçado mas uno. Múltiplas facetas, múltiplos comportamentos, atitudes, sentimentos.
Indefinição.
Sentimentos. Como detesto esta palavra. Profiro-a, sai-me da língua, soa nas cordas vocais, entra no ouvido, entra no cérebro. Está listada no dicionário. Tem significado. E não tem significado nenhum.
Confusão.
Que sentido encontrar para as palavras que escrevo? Palavras soltas, sem significado algum, provavelmente terão mais nexo.
Morango.
Amargura.
Azul.
Riso.
Dar.
Pálido.
Arfar.
Desaparecimento.
Concupiscência.
Aquiescer.
Qualquer.
Algo.
Nada.
Silêncio. Basqueiro. Muralha. Nada ligado a tudo. Fita-cola. Boneca. Queda. Voluptuosidade. Música. Talento. Dramatizar. Soja. Aroma. Canela. Gato. Tudo ligado a nada. Vazio. Sorrir. Medo. Veneno. Coragem. Antídoto. Remédio. Mebocaína. Droga. Torpor. Não me apetece dizer amor porque é uma palavra demasiado óbvia que não diz nada. Escultura. Naif. Verde. Estrela. Vénus. Campo. Castelo. Empurrar. Solene. Desastrada.
Mistura.
Confusão.
Lágrima.
Faz algum sentido?
O que significa fazer sentido?
Como é que se faz sentido?

Tuesday, January 04, 2005

In my head

Sabias ser pequeno, doce, indestrutível e demasiado quebradiço. Escondias-te nas entranhas do mundo, por trás de janelas poeirentas onde criancinhas de vinte anos ou mais desenhavam com os dedos figuras que pensavam ter desenhado décadas atrás. Por vezes, enfiavas-te por baixo de camas, colchões, montes de roupa, misturavas-te com as bolas de cotão e de pelo indesejadas e perdidas nos recantos de um sítio qualquer. Flutuavas no ar, com as brisas mais leves, ou ficavas assente no chão, como uma chicla que nem o mais persistente calcanhar consegue raspar. O essencial é que podias ser o que quisesses e ninguém sabe.
Ninguém sabe o que dizes quando escreves palavras bonitas que toda a gente gosta. Nunca ninguém saberá a imagem que crias, quando te deixas levar pelos dedos e o ecrã do computador é só mais uma coisa que faz parte do real, porque o que realmente interessa é a imagem que tu criaste. E ninguém sabe.