Tuesday, January 04, 2005

In my head

Sabias ser pequeno, doce, indestrutível e demasiado quebradiço. Escondias-te nas entranhas do mundo, por trás de janelas poeirentas onde criancinhas de vinte anos ou mais desenhavam com os dedos figuras que pensavam ter desenhado décadas atrás. Por vezes, enfiavas-te por baixo de camas, colchões, montes de roupa, misturavas-te com as bolas de cotão e de pelo indesejadas e perdidas nos recantos de um sítio qualquer. Flutuavas no ar, com as brisas mais leves, ou ficavas assente no chão, como uma chicla que nem o mais persistente calcanhar consegue raspar. O essencial é que podias ser o que quisesses e ninguém sabe.
Ninguém sabe o que dizes quando escreves palavras bonitas que toda a gente gosta. Nunca ninguém saberá a imagem que crias, quando te deixas levar pelos dedos e o ecrã do computador é só mais uma coisa que faz parte do real, porque o que realmente interessa é a imagem que tu criaste. E ninguém sabe.

3 comments:

Anonymous said...

Oh Joana. Hoje com o que escreveste para o meu mail já fiz caras parvas em frente ao ecrã. Gostei tanto.
E é bem verdade, mas tenho pena que ninguém veja o mesmo. tu não? Ninguém vê aquelas coisas cinzentas, ninguém vê a mesma intensidade de brilho. ninguém vê nada igual. e nem sempre é bom*

joana

joui said...

Pois, é isso mesmo.
Raios partam as palavras. O livro de neurociências diz que a linguagem serve para atribuir símbolos a coisas, mas bolas... há algo mais, para além disso. Não há?

Anonymous said...

chama-se coração

num sistema imaginário do organismo humano

joana