Thursday, February 17, 2005

Someone other than me

Entrou devagar no quarto que andava a imaginar há meses. O quarto que não era dela, onde não pertencia, entrou só de passagem. Arrastava os passos pesados de cerveja e haxixe, as roupas coloridas, escolhidas a dedo, misturadas e diferentes, distinguem-na da multidão. Não decadente, nem pensar nisso, misturada e quieta, humor cortante e algo se aflora na sua expressão simples que não dá para perceber o que é. Olhou à sua volta, as quatro paredes, cheias de coisas de uma vida que não lhe pertence nem lhe cabe tocar, ela só está ali para ver. Gostava que não fosse assim, mas é o pouco que tem e que pode aproveitar. Despe-se e deita-se na cama que não é sua.
Noutro lugar, outra rapariga esfuma-se em bebidas, fuma charros infindáveis, mata a inquietação que tentou abafar durante tempos. A imaginação surge como um monstro que é preciso calar e os charros também dão para isso. Não dorme.
No quarto, ao lado da cama, há uma mesa de cabeceira que tem uma foto de uma criança que olha o infinito. Ela olha-a e é uma estranha, mas percebe que o quarto tem histórias para contar que não a sua.
A criança, essa, anda perdida em ruelas lúgubres e inimagináveis, continua a olhar o vazio, sempre o vazio, só porque o vazio não dói.

1 comment:

Anonymous said...

dói sim. o vazio pesa tanto. escrevemos na 3ª, uma perspectiva mais agradável*

joana