Sunday, September 19, 2004

Ela olhava à sua volta e via coisas. Só coisas. Pilhas de livros que nunca tinha tido coragem de abrir, quanto mais ler. Caixas de CD’s vazias, e partidas no chão. Os CD’s estavam nas mãos de quem os tinha levado, às gotas, ao longo dos anos. Vasos de flores murchas e secas há meses. Meias sem par, sapatos gastos e bolas de cotão. Uma televisão e um DVD que a abstraíam da apatia do tempo. E olhava pela janela, coberta de pó, pensando que lá fora estaria melhor. À solta no tempo, à deriva, procurando qualquer coisa que nem ela sabia ser. Poderia levantar-se e saber o que era. Mas ali dentro, no meio das coisas, tinha a certeza daquilo que constituía a realidade. Podia prevê-la e organizar a vida em função dessa certeza. Estava segura e dali não saía, ficando sem saber o que poderia encontrar lá fora.

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