Sunday, September 19, 2004

Da calçada fria e cinzenta ela espiava o turbilhão de gente que lhe passava mesmo acima da cabeça. O sol iluminava e aquecia os dias, o ar, o tempo. As folhas caídas cobriam-lhe os pés sujos e aconchegava-se na esquina, mantendo um pouco de calor. O mundo passava, os momentos também, e ninguém o via. Mas ele estava lá. Via gente, e animais, e gente. Eles corriam, eles mancavam, riam e choravam e gritavam. E ele mantinha-se lá. Quieto. Sobrevivendo apenas, remendando a solidão do tempo com momentos de vidas que duravam apenas o seu campo de visão. Fracções de vidas inexistentes para além daquele momento que apareciam naquele espaço, e voltavam a desaparecer, tão rápido como surgiram.

2 comments:

Anonymous said...

Ela ou ele?
texto bonito Joui ;)

joui said...

Diz quem?
Podia ser ele, podia ser ela. A mistura que encontras é como se fosse a mistura da minha cabeça quando escrevi isto (já vi que fiz uma troca). Porque não é preciso que seja um ele ou uma ela, é apenas uma criança sem sexo, sem idade, infinitamente parada naquele lugar, a ver o mundo passar.